Polícia Federal apreende um milhão em dinheiro em carro usado por traficante

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Policiais federais do Paraná, da força-tarefa baseada em Londrina, responsáveis pelas investigações que levaram à prisão em julho deste ano do megatraficante Luiz Carlos da Rocha, o Cabeça Branca, foram surpreendidos como uma descoberta milionária: 81 dias depois da prisão do bandido, encontraram cerca de US$ 340 mil (aproximadamente R$ 1,064 milhão) escondidos num fundo falso de uma caminhonete Toyota Hilux, usada pelo também traficante Wilson Roncarati, apontado como o braço direito de Cabeça Branca.

Roncarati foi detido na mesma operação de julho num apartamento em um prédio na Rua Professor Francisco Moratto, no bairro do Butantã, em São Paulo.

O delegado Elvis Secco, da Polícia Federal, responsável pela coordenação da operação que levou o traficante à prisão, chefiando um núcleo especial da Polícia Federal de Brasília que atua nacionalmente em grandes operações, disse que os policiais federais estavam analisando o material apreendido, quando conseguiram decodificar mensagens trocadas por Cabeça Branca e Roncarati, no dia 30 de junho. Portanto, um dia antes da prisão dos dois.

— Cabeça Branca mandava Roncarati levar dinheiro para a cidade de Pedro Juan Caballero, capital do Departamento de Amambay, no Paraguai. Como a mensagem foi no dia 30 e Roncarati foi preso no dia seguinte em São Paulo, percebemos que ele não teve tempo de cumprir a determinação e viajar até o Paraguai. O dinheiro poderia ainda estar no veículo — afirmou o delegado.

Com essa informação, os policiais voltaram ao carro e começaram uma caça ao tesouro.

— Tiramos lataria, rodas, vasculhamos tudo. Até que fomos verificar o forro interno do teto do carro. Achamos o dinheiro ali. Várias notas de US$ 100 — contou o policial.

Na contagem, a soma surpreendeu: US$ 339 mil em espécie. O delegado Elvis Secco lembrou ainda que o carro já havia passado por perícia, mas nada havia sido encontrado. Segundo o policial, no dia da operação a PF já havia encontrado, em dois endereços usados pelo bando, uma fortuna: cerca de US$ 4,45 milhões (em torno de R$ 13 milhões) em espécie.

Em Osasco, escondidos num closet luxuoso, havia US$ 3,45 milhões guardados em malas; e no bairro do Butantã, em São Paulo, dentro de sacolas de papelão, foi localizado mais US$ 1 milhão. Também foram recolhidos relógios da marca Rolex, garrafas de vinhos caros (com um exemplar de Petrus, cujo preço pode chegar a mais de R$ 27 mil), joias e bolsas de grife famosas. Essa parte do material ainda não foi avaliada.

— Encontramos um tesouro — disse o policial na tarde desta terça-feira.

Cabeça Branca é considerado uma dos maiores traficantes brasileiros. Por duas décadas, o criminoso viveu como um fantasma, procurado pela polícia brasileira e de vários outros países como o maior traficante de drogas da América Latina, e com o nome na difusão vermelha da Interpol. Uma fama no submundo do crime que só pode ser comparada à de outro notório bandido: o colombiano Pablo Escobar, morto na cidade de Medellín, na Colômbia, em 1993.

Agindo nas sombras, ao contrário de Escobar, que gostava dos holofotes, Cabeça Branca comandou por mais de duas décadas um esquema de tráfico internacional de drogas responsável por abastecer mensalmente com pelo menos cinco toneladas de cocaína, com alto grau de pureza, países na Europa, na África e nos Estados Unidos. No Brasil, seria o principal fomentador da guerra travada entre quadrilhas rivais de criminosos no Rio e em São Paulo, fornecendo cocaína mais barata e sem tanta pureza para bandidos ligados às maiores facções do país.

Em mais de 20 anos de atividades no crime, a Polícia Federal estima que ele tenha reunido uma fortuna em bens que chegariam a pelo menos US$ 100 milhões (cerca de R$ 325 milhões) e movimentado uma cifra superior a R$ 1,2 bilhão. Valores que transformam Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, bandidos classificados como barões das drogas no continente, como criminosos pés-de-chinelo. Não há ninguém do nível de Cabeça Branca sendo procurado pela Polícia Federal no momento.

Com tanto dinheiro e longe de aplicar aos concorrentes a violência empregada por outros traficantes, incluindo o colombiano retratado nas telas do cinema, Cabeça Branca acumulou respeito no crime. Um caminho que foi cimentado com muita discrição, diplomacia e com o pagamento de valorosas mesadas.

Segundo policiais federais, o bandido espalhou corrupção comprando o silêncio daqueles que teriam o dever de detê-lo. A PF tem informações de que o traficante teria no bolso um punhado de políticos no Paraguai, incluindo na suspeita senadores e deputados; outros tantos no Brasil, em especial na região de fronteira com o Paraguai. Teria comprado ainda, com gordas propinas, servidores públicos estaduais e federais em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo, além de supostamente pagar pelo apoio de funcionários dos portos de Santos e Itajaí, por onde escoava sua mercadoria.

Fonte:O GLOBO

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