Em entrevista coletiva concedida nesta manhã, a força-tarefa da Lava-Jato disse que o esquema de lavagem de dinheiro funcionava desde o mensalão.
A Polícia Federal deflagrou nesta segunda-feira (23/5), a 29ª fase da Operação Lava-Jato. Batizada de Repescagem, ela investiga crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção passiva e ativa envolvendo verbas desviadas do esquema criminoso descoberto na Petrobras e tem como um dos principais alvos o ex-assessor parlamentar José Claudio Genu, que trabalhou com o ex-deputado José Janene (PP-PR), morto em 2010, e considerado um dos mentores do escândalo do mensalão.
Em entrevista coletiva concedida nesta manhã, a força-tarefa da Lava-Jato disse que o esquema de lavagem de dinheiro funcionava desde o mensalão e, a despeito dos casos serem distintos, os personagens dos dois esquemas criminosos se repetem. Na operação deflagrada, foram emitidos seis mandados de busca, duas prisões preventivas e um pedido de prisão temporária petrolífera.
O ex-assessor parlamentar de Janene foi preso e está sendo encaminhado para Curitiba, onde se concentra a coordenação dessa operação. Delegado da Polícia Federal Luciano Flores de Lima, da força-tarefa da Lava-Jato, disse na entrevista que a participação de Genu no esquema era assessorar parlamentares do PP, articulando com o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa para a manutenção do recebimento de propina. “O petrolão não nasceu do mensalão, mas em determinado momento os dois esquemas se cruzaram em determinado ponto da estrada e o mesmo know-how do mensalão foi seguido na Petrobras, em razão do grande volume de recursos da estatal para ser sugado no esquema de corrupção”, disse Flores.
Na semana passada o juiz Sérgio Moro condenou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu a 23 anos de prisão e apontou que era “perturbador” o fato de Dirceu ter continuado a receber valores ilícitos do esquema da estatal petrolífera, inclusive durante o julgamento do mensalão – que em 2012 condenou o petista a 7 anos e onze meses de prisão por corrupção passiva.
Agora, as investigações da Polícia Federal apontam que Genu também teria recebido dinheiro ilícito do esquema da petrolífera estatal enquanto estava sob julgamento do STF. Na coletiva, a força-tarefa informou que foram identificados R$ 7 milhões nas contas de parentes de Genu e que ele recebia valores em espécie por intermédio do doleiro Alberto Youssef. Genu foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão, em 2012, mas após recurso, em março de 2014, foi absolvido do crime de lavagem de dinheiro. Ele também tinha sido denunciado por corrupção passiva, mas a pena para o crime prescreveu.
A força-tarefa da Lava-Jato disse na coletiva que as investigações apontam que o ex-assessor parlamentar de Janene teria recebido R$ 2 milhões em propina. Apesar de Genu nunca ter exercido mandato parlamentar, ele sempre esteve próximo de Janene, considerado um dos mentores do esquema do mensalão. “Sua prisão tem peso estratégico para a Lava-Jato porque ele era um dos principais cabeças envolvendo o recebimento de vantagens indevidas do PP”, disse o procurador Diogo Castor Mattos, na entrevista coletiva ocorrida há pouco em Curitiba.
Outro envolvido no esquema, o empresário Humberto do Amaral Carrilho tem mandado de prisão temporária em aberto, mas está fora do País. A Polícia Federal diz que já sabe onde ele está, mas não revelou o local.
Na coletiva, a força-tarefa da Lava-Jato disse também que Genu seria responsável por intermediar o pagamento de propinas dentro da estatal petrolífera e que ele era beneficiário de até 5% do que era pago a partir de contratos firmados no setor de Abastecimento da estatal.
Deboche
O delegado da Polícia Federal Luciano Flores de Lima, da equipe da Operação Lava Jato, afirmou que os recebimentos de propina do ex-assessor da presidência do PP João Cláudio Genu durante julgamento do processo no mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), em 2012, foi “verdadeiro deboche” à Justiça e à polícia.
“Mesmo durante essas fase, em que estava sendo processado e condenado pela maior corte do País, como verdadeiro deboche à Justiça e à polícia, ele continuava praticando crimes e recebendo propina”, afirmou Lima.
“Podemos fazer um paralelo entre mensalão e Lava-Jato de maneira mais aprofundada neste momento”, disse o delegado. Genu foi condenado em 2012 por lavagem e corrupção no mensalão. Sua pena foi extinta por prescrição e por recursos, posteriormente.
Segundo o delegado, a operação desta segunda “demonstra que apesar de existir um esquema gigantesco de corrupção instaurada há muito tempo no Brasil, destinado a sangrar os cofres públicos, em especial a Petrobras, e mesmo essas pessoas já tendo sido processadas e até mesmo condenadas elas ainda continuam sendo investigadas e, se for o caso, presas, como na data de hoje”.
Prisão
O ex-assessor do PP João Cláudio Genu teve decretada a prisão preventiva, sem prazo de duração. Segundo a decisão do juiz federal Sergio Moro, “João Cláudio de Carvalho Genu teria recebido propinas e participado de forma relevante no esquema criminoso da Petrobras ao mesmo tempo em que estava sendo processado criminalmente perante o Egrégio Supremo Tribunal Federal por crimes de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro no âmbito da Ação Penal 470”.
Na Operação Lava-Jato, Genu já havia sido alvo de busca e apreensão na Operação Politeia, determinada pelo Supremo Tribunal Federal a pedido da Procuradoria-Geral da República em julho de 2015.
Fonte: Correio Braziliense