Causos por Xavier Neto: “DESACATO FEDERAL: O PEIDO DA DISCÓRDIA”

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DESACATO FEDERAL: O PEIDO DA DISCÓRDIA

Os Jogos Nacionais de Integração da Polícia Federal (Joids), além do reencontro, serve também para colecionarmos saborosas histórias. Nos Joids de Recife, em 1986, parte da delegação de um estado nordestino resolveu experimentar as delícias da terra num restaurante típico pernambucano. Carne de sol, arrumadinho, buchada e arrubicão integraram os pedidos dos esfomeados Agentes e do Delegado que chefiava a pequena “Delegação”.

Comeram que se esbaldaram. Tudo, evidentemente, regado a uma cervejinha, um caldinho de feijão e uma pinguinha servidos nos tradicionais minúsculos copos para “dar mais sabor”.

Ao término da ágape, a comitiva entrou na velha Kombi alugada para tomar o rumo do campo do Náutico, onde enfrentar-se-iam, em instantes, as equipes da Bahia × Parana. A viagem seguia tranquila, apesar do enorme calor e do trânsito um tanto caótico da capital pernambucana.

Foi aí que começou o imbróglio. Algum integrante da pequena delegação deve ter exagerado na buchada apimentada ou no arrubicão e produziu um míssil capaz de estremecer o pentágono. Deixou escapar um fétido e silencioso peido que impregnou o ar, deixando o ambiente insuportável dentro do veículo. A coisa ficou preta porque o desenho da Kombi não ajudava a circulação do ar e, para azar de todos, dois vidros laterais estavam emperrados.

Profundamente irritado, o Delegado – que ocupava o banco de trás soltou um palavrão e mandou parar imediatamente a velha Kombi. Fez prevalecer à hierarquia e agora lutava para manter a disciplina, pilares inerentes à Carreira Policial. Queria saber quem foi o autor de tamanha desfeita.

Alguém tergiversou: – É só cheirar o pescoço de cada um, doutor, que o senhor descobre rapidim…

O delegado atalhou ríspido:

– E eu lá sou homem de ficar cheirando o pescoço de ninguém! Eu sou Delegado! De-le-ga-do! E Delegado não fica por ai cheirando pescoço de Agente.

Tobias Passos Pacheco, o Pachequinho, autor da sugestão, injuriou-se:

– Agora o senhor tá me ofendendo e ofendendo a todos os membros da carreira policial. O senhor já viu, por acaso, algum de nós cheirando pescoço de Delegado? Não?! Então não fique colocando chifre na cabeça de cavalo.

– O caso aqui não tem chifre e não tem cavalo, Pachequinho. Trata-se de um peido desrespeitoso a um Delegado de Polícia Federal dentro de um veículo e eu exijo que o autor se identifique agora, para evitar problemas futuros – explicou ameaçando o Delegado.

Todos se entreolhavam para ver se alguém tinha uma solução rápida e amigável para tão estranha lide, mesmo porque alguns curiosos já faziam roda atraídos pelo bate-boca federal.

Conversa vai e conversa vem sob um sol daqueles de rachar mamona na cabeça, o certo é que o Agente Sebastião Régis, porta-voz do grupo, chamou a atenção para o mico federal que a instituição estavam pagando em plena via pública e sugeriu que, ele próprio, procedesse, a posteriori, uma “rigorosa investigação 92 para apurar o autor da desditosa, constrangedora, mal cheirosa e inoportuna bufa.

 

Em memória de Xáxá.

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