O número de operações da Polícia Federal e de apreensões de drogas despencou desde o início da paralisação de agentes, escrivães e papiloscopistas (especialistas em identificação), em 7 de agosto.
A categoria é a única ainda parada no funcionalismo federal, que no primeiro semestre fez uma onda de protestos.
A paralisação reduziu drasticamente o número de operações policiais. Em média, de janeiro a julho, foram 23 por mês; já em um mês e meio da greve, houve apenas 13.
No início do ano, o ritmo estava lento, mas o número disparou em seguida, com 33 ações em março, 38 em maio e 25 em julho. Após a greve, foram 9 em agosto e 4 neste mês.
Segundo os grevistas, o movimento causou ainda redução expressiva no número de drogas apreendidas, sobretudo nas fronteiras.A média mensal de cocaína e maconha retidas no país, por exemplo, caiu para menos da metade da registrada de janeiro a julho.
No Paraná, em Mato Grosso do Sul e em Mato Grosso –Estados que concentram as maiores apreensões–, a PF apreendeu até julho, em média, 4.024 kg de cocaína e maconha por mês.
Do início da paralisação até 5 de setembro, foram apenas 30,7 kg.
A queda de operações, dizem grevistas, prejudica investigações contra crimes como colarinho branco, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
“Para muita gente, é melhor a PF estar parada. Ela acaba prendendo pessoas envolvidas com o poder, que bancam campanhas de políticos. Parada, não vai prender esse tipo de gente”, afirma Marcos Wink, presidente da Fenapef, federação que reúne agentes, escrivães e papiloscopistas.
A entidade não representa os delegados –carreira que ocupa postos de comando e que não fez greve.Os grevistas afirmam que a situação pode piorar. Ontem, por exemplo, 150 policiais federais do Rio Grande do Sul entregaram os fones usados para acompanhar as escutas telefônicas.
A Fenapef afirma que há falta de disposição do governo em negociar, por isso a continuidade do movimento. Os grevistas não aceitaram o reajuste médio oferecido, de 15,8% em três anos.
Neste mês, a categoria já espera corte de ponto. Entre as reivindicações estão aumento de salário e reconhecimento de funções investigativas.
INALTERADOA direção da Polícia Federal informou que o número de operações especiais neste ano permanece inalterado, em comparação a 2011. “Foram 175 operações até 14 de setembro nos dois anos”, diz.
Segundo a PF, além da greve, dois eventos incomuns deslocaram policiais das investigações: a greve da Polícia Militar na Bahia e a segurança da Conferência Rio+20.
Sobre as apreensão de drogas, destaca a “mudança de estratégia”, especialmente os acordos com países vizinhos.
Como a Folha revelou em agosto, a PF tem agido diretamente na erradicação de folhas de coca e de pés de maconha, “com o objetivo de impedir o ingresso de entorpecente em território nacional”.
O Ministério da Justiça afirmou que o ponto dos grevistas será cortado e que “permanece aberto ao diálogo, embora já não seja possível atender a qualquer reivindicação que implique elevação nos custos em 2013, por determinação legal”.
Conforme a pasta, “a maioria dos servidores –inclusive delegados, peritos e servidores administrativos da própria PF– aceitou o reajuste proposto pelo governo federal e apenas a Fenapef recusou”.
Agentes, escrivães e papiloscopistas, categorias paradas, são o maior efetivo da PF, somando 8.000 servidores do total de 11.260.
Fonte: FOLHA.COM