Grupo marchou pela Esplanada e entregou carta de reivindicações.
Para ministro da Justiça, governo consegue garantir a lei e a ordem no país.
Policiais marcham pelo Eixo Monumental durante protesto por valorização da carreira na Esplanada dos Ministério (Todas as fotos do G1 DF)
Depois de pouco mais de três horas, terminou a marcha de policiais por valorização da carreira, que ocorreu na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, na tarde desta quarta-feira (21). Os manifestantes entregaram um documento com as reivindicações das categorias a um representante do Ministério da Justiça.
O objetivo inicial dos participantes era fazer a entrega ao ministro José Eduardo Cardozo, que não se encontrava no local. Criticando a alta da criminalidade e a sensação de insegurança, o grupo pede a elaboração de políticas públicas na área e a rediscussão do Estatuto da Criança e do Adolescente. De acordo com a Polícia Militar, o ato reuniu cerca de 600 pessoas de diversos estados.
O protesto teve início por volta das 15h. O grupo se concentrou em frente à Biblioteca Nacional, de onde seguiu pelo Eixo Monumental no sentido Congresso Nacional. Durante a marcha, os manfestantes fecharam duas faixas da via.
A passeata seguiu até a Praça dos Três Poderes e retornou para o gramado do Congresso, em frente ao Palácio da Justiça.
O protesto desta quarta integrou a mobilização nacional das categorias, que culminou em paralisações em vários estados e do Distrito Federal.
Em Brasília, por exemplo, até a meia-noite estão suspensas as investigações e os registros de ocorrências – exceto em caso de crimes violentos, como estupros, homicídios e sequestros-relâmpagos. Diretor do sindicato da categoria, Luciano Garrido disse que apenas 30% dos 6 mil policiais civis trabalham no período.
As categorias pedem ainda pedem melhores condições de infraestrutura, segurança e o nivelamento do salário dos policiais em todo o Brasil. O ministro da Justiça afirmou que a reivindicação não pode trazer transtornos, prejuízos e violência para a sociedade. Ele disse ainda que, se necessário, o governo tem condições de garantir a lei e a ordem em todo o território nacional.
“Os policiais que servem a lei e a Constituição sabem que a greve está proibida por decisões do Supremo [Tribunal Federal]. Em segundo lugar, não creio que nenhum brasileiro e nenhuma brasileira queira que a sociedade pague a conta de um processo que tem de ser de diálogo e de reivindicação. Caso ocorra, podemos perfeitamente encaminhar a Força Nacional de Segurança Pública e as Forças Armadas para garantir a lei e a ordem, porque a Constituição nos autoriza. A população brasileira deve ficar tranquila”, disse Cardozo.
Segurança na Copa
De acordo com o presidente da Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Polícia Civil, Jânio Gandra, a categoria quer participar da discussão de um novo conceito de segurança pública no Brasil. “O modelo de segurança para a Copa não vai deixar legado para o nosso país. O modelo que temos hoje em dia já está falido”, afirmou Gandra.
Os representantes dos sindicatos e associações foram recebidos por um representante do Ministério da Justiça e informaram que não pretendem fazer greve durante a Copa. “Nós vamos mostrar que somos importantes e vamos trabalhar muito para garantir a segurança no evento, mas depois do Mundial a segurança vai ser a mesma para os brasileiros”, disse.
Segundo o presidente do sindicato da Polícia Federal do DF, Flávio Werneck, o Brasil foi responsável por mais de 10% dos homicídios que aconteceram no mundo em 2013. “No ano passado morreram 58 mil assassinados [no Brasil]. No mundo foram 400 mil. Isso não é segurança pública”, afirmou Werneck. O presidente confirmou que os policiais federais não parar durante a Copa.
“Nós temos nosso direito constitucional de nos manifestar. Então, durante o evento, existe sim a possibilidade de nos manifestarmos. Quando um ministro fala que os policiais não têm direito de se manifestar, isso começa a me preocupar porque começa com a gente, depois são os servidores públicos e quem sabe ao final nós estamos migrando para uma situação mais complicada de ditadura”, afirmou Werneck.
Insatisfação
Com 20 anos na corporação, a agente da Polícia Civil do DF Ana Silva diz que antes sentia orgulho do cargo, mas que hoje a situação é diferente. Ela também afirmou que atualmente teme revelar às pessoas onde trabalha, pelos riscos inerentes à profissão.
“A gente está passando aperto. Temos que comprar nossa própria munição, equipamentos de segurança. [Eu] Me sinto desamparada, principalmente considerando a função de um policial, que garante a ordem à sociedade.”
“A política de hoje está sucateando a polícia. Nós estamos sentindo na pele toda insegurança que a população sente. Nós temos família como todo mundo. Tive que tirar minhas filhas da escola particular, tenho que fazer jornada dupla, muitas vezes tripla, pra conseguir manter minha família”, afirma a agente da Polícia Federal Rosália Faria.
Ela afirma que as mulheres estão desistindo de exercer a profissão. Segundo Rosália, as policiais estão “completamente desestimuladas”. “Nós, agentes, papiloscopistas e escrivães, merecemos respeito. É exigido ensino superior pra gente, mas nosso salário é de nível médio.”
“Apesar de eu gostar muito da minha profissão, a falta de reconhecimento gera muita frustração”, afirmou um policial rodoviário que prefere não se identificar.
Fonte: G1 DF