Brasília, Rio e São Paulo – As declarações da presidente Dilma Rousseff anteontem sinalizando que está mais preocupada com geração de empregos no setor privado do que com a greve dos servidores públicos irritaram ainda mais os grevistas, que se consideram preteridos nas prioridades do Executivo federal. Sindicalistas receberam com “estranheza” a fala da presidente e apostam que isso aumentará a adesão e a força do movimento.
A semana que promete ser decisiva para as negociações com a equipe econômica — começa com o tom elevado.
Neste sábado, os cariocas voltaram a enfrentar problemas no trânsito por causa de protestos da Polícia Rodoviária Federal. E a Polícia Federal prometeu uma nova quinta-feira de caos no Aeroporto de Cumbica, o maior terminal brasileiro.
— Os trabalhadores do serviço público também contribuem para o crescimento do país — afirmou o presidente da Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Condsef), Josenilton Costa. — A fala da presidente vai acirrar os ânimos em vez de acalmar o movimento.
Os manifestantes prometem montar um acampamento na Esplanada dos Ministérios para aumentar a pressão na negociação com o governo. Na segunda-feira, o assunto será o primeiro tema da agenda da presidente Dilma Rousseff, em reunião com a ministra do Planejamento, Mirian Belchior.
Manifestações da PRF prejudicaram o trânsito em duas das principais vias de acesso ao Rio na manhã do sábado. Uma das pistas da rodovia Niterói-
Manilha foi interditada, na altura do km 308, em São Gonça-lo, com cones e placas sinalizando a operação-padrão. Outra manifestação da PRF causou engarrafamentos na Via Dutra.
O Sindicato dos Servidores da Polícia Federal (PF) no Rio fará uma manifestação nesta segunda-feira de manhã em frente ao prédio da Superintendência da instituição, na Zona Portuária da cidade. Em São Paulo, a operação-padrão da PF em Cumbica, que provocou filas enormes no aeroporto e atrasou os voos em mais de uma hora na quinta-feira passada, se repetirá na próxima quinta-feira, dia 16, às 16h30.
— Nesse dia faremos uma assembleia para avaliar se o governo apresentou uma proposta concreta — informou Alexandre Sally, presidente do Sindpolf-SP.
Na Zona Franca de Manaus, a operação-padrão dos servidores da Receita Federal e do Ministério da Agricultura já causou um prejuízo de R$ 464 milhões, por causa da demora para liberar insumos importados para o polo industrial. O Centro da Indústria do Amazonas (Cieam) calcula um prejuízo diário de R$ 32 milhões por causa da greve dos servidores.
— A liberação das importações nos aeroportos, que era feita em dois dias, chegou a demorar 12 dias. Nos portos, a liberação que levava cinco ou seis dias chega a demorar 25 dias — diz Wilson Périco, presidente do Cieam.
Na próxima semana, Périco acredita que a entrada em funcionamento do convênio do governo do Amazonas com o governo federal, que permitirá que servidores estaduais substituam os grevistas, deve ajudar a acelerar a liberação das importações.
Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), espera melhoras para seu setor a partir de segunda-feira, depois que uma liminar do Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que os fiscais agropecuários devem retornar ao trabalho. Autores: Gabriela Valente, Paulo Justus e Paulo Roberto AraújoFonte: O Globo – 12/08/2012