O Congresso Nacional amanheceu cercado por policiais federais na manhã desta sexta-feira (21/10). Fortemente armados e encapados, eles vasculharam salas e gabinetes. Chamada de Métis, a operação da PF objetiva desarticular associação criminosa armada responsável por embaraçar a Operação Lava-Jato. A suspeita é de que policiais legislativos faziam varreduras em casas de parlamentares para descobrir e eliminar escutas instaladas por ordem do Judiciário. Três senadores e um ex-parlamentar foram beneficiados com ações de contra-inteligência, de acordo com policial que fez delação premiaa. De acordo com o Ministério Público, outro objetivo dos seguranças do Senado era “satisfazer interesses particulares”.
Estão sendo cumpridos nove mandados judiciais, todos em Brasília, sendo quatro de prisão temporária e cinco de busca e apreensão, um deles nas dependências da Polícia do Senado. Os mandados foram expedidos pela 10º Vara Federal do Distrito Federal.
Em nota, a Polícia Federal informou que foram obtidas provas de que o grupo, liderado por Pedro Ricardo Araújo Carvalho, diretor da Polícia do Senado, tinha a finalidade de criar embaraços às ações investigativas da Polícia Federal em face de senadores e ex-senadores, utilizando-se de equipamentos de inteligência.
Em um dos eventos, Pedro Ricardo ordenou “a prática de atos de intimidação à Polícia Federal, no cumprimento de mandado expedido pelo Supremo Tribunal Federal”, informou a corporação. Naquele momento, em julho de 2015, a PF executava a operação Politeia, e cumpria ordem de busca e apreensão no apartamento funcional do senador Fernando Collor (PTC-AL). Pedro Ricardo é ligado ao ex-senador José Sarney (PMDB-AP) e ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ambos alvos da Lava-Jato.
A 10ª Vara Federal ordenou que quatro policiais do Senado envolvidos sejam afastados de seus cargos. Um policial fez acordo de colaboração premiada, quando confessa crimes, paga multas e entrega documentos e informações de outros participantes das ilicitudes a fim de obter redução de suas penas na Justiça.
Ele disse que houve quatro ações para varredura em imóveis ligados a políticos. Outras testemunhas confirmaram versão do delator de que as ordens para buscar escutas foram feitas sem registro oficial. Com equipamentos do próprio Senado, os agentes do Legislativo procuraram escutas em residências particulares e funcionais de três senadores e um ex-parlamentar investigados na Operação Lava-Jato. As varreduras aconteceram em seis endereços diferentes do Legislativo. Em duas ocasiões, as ações foram em São Luís (MA) e Curitiba (PR).
Os investigadores dizem que os policiais legislativos sequer podem atuar fora do Senado. “A deliberada utilização de um equipamento sofisticado, de propriedade do Senado Federal, utilizando recursos públicos, passagens aéreas custeadas pelo Erário e servidores concursados, em escritórios ou residências particulares, não possui outro objetivo senão o de embaraçar a investigação de infração penal que envolve organização criminosa”, afirma o pedido de prisão feito pelo Ministério Público à 10ª Vara.
14 anos de prisão
Segundo a PF, os investigados responderão por associação criminosa armada, corrupção privilegiada e embaraço à investigação. “Somadas, as penas podem chegar a 14 anos e seis meses de prisão, além de multa”, estima a corporação, em caso de condenação judicial ao fim do processo.
O nome da operação faz referência a Métis, considerada a “deusa da proteção, com a capacidade de antever acontecimentos”.
Fonte: Correio Braziliense